sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Bola Aparte

Marx para tudo e para todos!

Vamos falar de Marxismo, a religião dos intelectuais! Parece algo anacrónico, mas por todo o lado (onde há vida pensante) se anda a falar de marxismo. Porventura encabeçados por Jacques Derrida (que em 1993 escreve o seu “Spectres de Marx”) são vários os filósofos, sociólogos, historiadores e opinion makers de todas as estirpes que se têm vindo a debruçar intensamente sobre esta corrente do pensamento socialista que tão facilmente triunfou no século XIX, para se ver refutada pelos factos da história e pelo tempo, que nunca trouxe o profetizado armagedão industrial: a implosão do capitalismo, que seria organicamente inevitável devido às suas contradições internas e propensão para o desequilíbrio. Antes assistimos à proliferação selvagem, frequentemente imperialista, destas “democracias liberais” que tão conscensiosamente construímos nesta segunda metade de XX – por nós refiro-me à velha fortaleza Europa e Sr. Uncle Sam - clamando fervorosamente a sua superioridade, ideia por demais risível. Superior a quê? Adequado a onde? Perfeito para quem?

Este ressurgimento do debate em torno do marxismo, esta “Marx-renassaince”, é um fenómeno culto, com centro nas universidades (sobretudo americanas), e, não por acaso, o Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa vai realizar um “Congresso Internacional Karl Marx” em 14 e 15 de Novembro, aproveitando a efeméride dos 160 anos do “Manifesto...”. É um fenómeno reflexivo que não parece querer contemplar as experiências políticas que se foram fazendo e fazem, sob a égide do marxismo, e invariavelmente redundam em regimes autocráticos e violentos, dando força à ideia de que partes importantes do aparelho teórico marxista estão hoje empiricamente invalidadas. Interessa mais pensar a perenidade do pensamento marxista na forma em que exercemos a nossa cidadania e nos relacionamos com os poderes.

Trata-se de equacionar a forma como o marxismo, nos seus diversos “espectros”, ainda com as multíplas falências que apresenta - especialmente na sua pretensão à universalidade e intemporalidade - continua a ser uma filosofia de combate à passividade social e ao deficit crítico.

O Marxismo definia claramente a reacção, o conflito (de classes), até a violência como factor de mudança necessário e inevitável na evolução das sociedades. A sua actualidade encontra-se legitimada sempre que, como agora, e com especial validade para o nosso mundo português, lidamos com governos prepotentes e desaconselhados, com políticos de ética duvidosa, apressados em colher o “milho” empresarial que semeiam durante os seus mandatos, e enfrentamos a desmesura dos mecanismos económicos e a sua manipulação, por agentes promiscuamente colocados bem perto do aparelho político, que fazem a sua vilania especulativa de forma declarada, insinuante, um insulto à nossa inteligência.

O nosso mundo pós-moderno neste jovem século XXI, tão preenchido de tecnologia e distração e futilidade, necessita de uma atitude de combatividade crítica – e violenta, se necessário – que obrigue “o homem a um olhar lúcido sobre as suas condições de existência e as suas relações recíprocas” (“Manifesto do Partido Comunista”, 1848) e facilmente encontra esta atitude no Marxismo. Daí a validade deste revisionismo. E com a crise financeira que Nova Iorque tornou bem evidente nestes últimos dias, a politização económica advogada por Marx parece ter toda a pertinência, porque o intervencionismo estatal apenas para evitar o desastre com inoculações de capital é das mais imbecis iniquidades que temos de aturar neste nosso sistema.

O que é certo é que ainda há Marx para tudo e para todos!


Por: Francisco Adão

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