sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Bola Aparte

Listen Darling...



É perfeitamente natural e legítima a ideia de que a arte contemporânea é animal raro no nosso país, e que mesmo que aqui passe pouco se demora na sua migração e logo procura pastagens mais verdes e agradáveis. Esse até pode ser o consenso mas a verdade é que temos arte contemporânea em Portugal, só que se esconde muito bem.

Data de 2004 a formação da Ellipse Foundation, uma iniciativa do já coleccionador de longa data João Oliveira Rendeiro com o apoio do Banco Privado Português, que hoje conta já com uma colecção que vai da tradicional pintura a óleo à instalação mixed-media, passando pela fotografia, vídeo, escultura e desenho.

O objectivo é promoção de artistas e da arte contemporânea, não só através de uma política continuada de aquisições e encomendas como por iniciativas na área da formação de artistas.

Vemos uma apetência para artistas que definem como seminais, em actividade desde a década de 70, e também artistas em mid-carreer - que sempre sofrem em Portugal, onde nos habituámos a exultar o início de uma carreira e o seu final, com grandes exposições retrospectivas, ignorando toda a actividade do artista entre esses dois estádios - e novos criadores que vão emergindo neste início de século. A Ellipse tem curadores como Manuel Gonzáles (director artístico da colecção de NY JP Morgan-Chase) e Pedro Lapa, Director do Museu do Chiado. Tem consultores como o curador parisiense Hervé Mikaeloff e o Director do Museu Guggenheim de Bilbau, Ricardo Martí Fluxá.

E o que andam estes senhores a fazer? Pois não é que disponibilizaram a sua colecção de mais de 400 peças escolhidas a dedo e o seu poderoso Art Centre em Alcoitão/Estoril a uma ilustre curadora convidada - Lisa Philips, directora do New Museum de NY – a quem pediram para seleccionar algumas obras e organizar uma exposição. Meu dito, meu feito: aí temos “Listen Darling... the world is yours” que vimos inaugurada no passado dia 11 de Outubro. O título reúne o nome de duas obras seleccionadas, de Jack Pierson e de Gardar Eide Einarson.

É uma selecção que reúne mais de 40 artistas e se pretende representativa das “mudanças radicais pelas quais a cultura passou nas suas dinâmicas psico-sexuais, nos últimos 30 anos” e como estas se vêm espelhadas na arte.

Pelo menos esta é a verborreia com que os organizadores se justificam. A sexualidade está presente, assim como a dinâmica/conflito homem-mulher e as formas como este se tem resolvido na actualidade.

É uma reflexão sobre género, identidade, política e a posição do homem e mulher (talvez mais relevante a parte feminina, pois há muita arte de mulheres) perante o mundo e a arte. Vemos uma das celas de Louise Bourgeois, uma instalação vídeo de Shrin Nestat sobre a sociedade patriarcal do Médio Oriente.

Na fotografia não são esquecidas as séries de Nan Goldin, Laurie Simmons e Richard Prince. Jamie Durham apresenta umas cuequinhas de penas vermelhas a que chamou “pocahontas underwear”. Vão ver que vale a pena a deslocação.


Por: Francisco Adão

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