sábado, 25 de outubro de 2008

Bola Aparte

As Fitas Caídas



Tanta coisa para falar. O mundo sofre! Os professores portugueses humilham-se no palco cibernáutico em nome do estado e da insignificância tecnológica que este pariu, esse Magalhães de má memória que nada irá descobrir. Eu passei os últimos dias a ver filmes e sinto-me bem, muito obrigado! O Outono em Portugal, à parte as melancolias, traz sempre consigo os festivais de cinema e por isso, para mim, será sempre uma estação alegre.

Tivemos a Festa do Cinema Francês que tirando a comédia off-beat “Paris” com Juliete Binoche e Romain Douris e o curioso documentário “Le Premier Cri” pouco mais oferece. Temos ainda “Zavet”, uma película Kusturica inferior que tenta orquestrar aquela mesma excentricidade balcânica de forma pobre e em nome de si própria. Longe vão as gloriosas fábulas de “Gato Preto, Gato Branco” e “Underground”.

E acolhemos agora o VI DocLisboa, o Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa que, de 16 a 26 de Outubro agracia as salas da Culturgest, São Jorge e Cinemas Londres com a sua vasta e criteriosa selecção de celulóide que admita de forma alargada o rótulo de documental, numa altura que o fenómeno fusionista do documentário com a ficção se apresenta como um dos mais efeverscentes do mundo do cinema. Quando os cânones do documental se mostram até insuficientes para representar o real frenético que o ser humano conseguiu construir, a selecção deste festival mostra não temer alargar a sua selecção o objectos que, de várias maneiras, não são documentários.

“Afterschool” é claramente um desses objectos. A primeira longa do novaiorquino (de origem brasileira) António Campos, que é um account a la Gus Van Sant de uma overdose de duas jovens liceais americanas, ocorrida mesmo depois da escola. “Z32” traz-nos um soldado israelita arrependido da sua participação num massacre aleatório de palestinianos em nome da pura retaliação. A sublime Nan Goldin traz-nos “I’ll be your mirror”, a sua narrativa vídeo da vida que já conhecemos do seu trabalho fotográfico. É quase como um livro de finados das personagens da sua intimidade, bravos soldadinhos de chumbo quase todos sucumbidos às drogas e à SIDA. O grande Steve McQueen lança-nos o seu “Hunger” em que filma os últimos dias do mártir do IRA Bobby Sands.
Coisa violenta, parece. Vibrantes felicitações para o uber cool actor, que se afirma agora como realizador depois de ter vingado como artista plástico (ganhou o prémio Turner, o que quer que seja que isso significa). Campeão. E precisamos é de coisas intensas como estas.

E oferece-nos muito mais este festival, é só escolher. Os puristas gostarão de saber que os monstros sagrados Frederick Wiseman, Joris Ivens, Raymond Depardon e Johan Van der Keuken farão a sua aparição. E daqui a pouco rebenta aí o IndieLisboa. Por isso animem-se meus amigos: as folhas caem ao ritmo da confiança dos investidores no mercado, mas vem aí o bom cinema.



Por: Francisco Adão

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