sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Bola Àparte

"Falemos de cultura em Portugal"




Falemos de cultura em Portugal. Não! Não se trata de um oxímoro! Não é como falar de comida na Etiópia ou direitos humanos na China. EXISTE cultura em Portugal.

Existem preocupações culturais, especialmente desde que a cultura se revelou um dos sectores mais lucrativos do PIB europeu. Sabemos que nenhum americano ou japonês bem-na-vida se deixa ir para a cova sem tirar uma fotografia de um castelo do Loire, ou da Monalisa. E o nosso Portugal cultural não fica de fora. Temos uma ministra e tudo para estas coisas: não sei quê ... Lima. É isso!

Esteve patente no CCB, desde 19 de Maio até 17 deste mês, a mega-exposição “Le Corbusier, a arte da arquitectura”, a maior retrospectiva jamais feita do trabalho deste suiço multifacetado, considerado o maior nome da arquitectura do século XX, com uma pesquisa nas artes plásticas surpreendentemente rica e coerente (na época da eclosão dos diversos modernismos) e modelos de design objectual que se tornaram paradigmas de perfeição.

As suas concepções de harmonia espacial à escala humana fazem dele um mestre renascentista a moldar o mundo moderno. Logo vozes über-críticas se levantam acusando este génio de colaborar com o governo de Vichy durante a ocupação nazi ou de ser o principal responsável pelos modelos de construção suburbana, normativa e esmagadora, que submeteram o indivíduo e o seu espaço à vontade do estado, alienando-os em nome de um racionalismo materialista que deturpou as relações sociais nas grandes cidades industriais europeias, sendo talvez Paris o melhor exemplo.

Mas quem o diz é, com todo o respeito, um idiota. Isto é como culpar o inventor da televisão pela programação da TVI.

Mas o que importa sublinhar é o regozijo com que se anunciou, a um mês do final, o número recorde de 50.000 visitantes para uma exposição desta craveira, que cruzou Nova Iorque, Londres e Tóquio.

Como se de uma proeza se tratasse. Numa capital europeia de mais de um 1 milhão. É esta falta de ambição, para além da tradicional desorganização, que fez com que os russos do Hermitage recuassem do projecto de integrar Lisboa na sua rede de museus-satélite.

Muito haveria a dizer sobre isto: causas estruturais, a má gestão do CCB desde 2000, o português médio não frequenta museus, yada, yada, yada.

Triste é regar com champagne tão pobre resultado.
Parabéns Portugal, sempre consistente na mediocridade.


Por: Francisco Adão

Sem comentários: